SOBRE

Inventado e conduzido por Debora Pill, Amadeu Zoe e Biancamaria Binazzi, Rádio Experimenta é um laboratório de investigação e criação sobre os possíveis caminhos do Rádio. Cursos, palestras, encontros temáticos, debates, curadoria, intervenções artísticas são algumas das atuações do trio.

A gente acredita muito nos encontros. Em fazer junto.
E nas singularidades (ou diferenças, como preferir!).
Tudo isso pra gente é alimento pra experimentação.

O amor pela música já tinha nos proporcionado inúmeros encontros: shows, Goma Laca, Serralheria, Barulho, Rádio Cultura, enfim… Mas nossa história conjunta de criação radiofônica começa em 2015, no antigo espaço do Cultura e Mercado, lá no prédio da Balsa, no centro de São Paulo.

Lá, a gente realizou alguns encontros com pessoas de diversos universos dispostas a repensar padrões, propor linguagens e encontrar novos caminhos para a criação em rádio. Daí a gente inventou juntos a “Jornada de Rádio e Inovação”, que foi o embrião do curso que estamos realizando no Sesc Santo Amaro desde outubro de 2017.

Nesse curso, criamos um laboratório para criação de programas de rádio e podcasts, utilizando estrutura simples e acessível como celulares e software livre. Nas aulas, atividades de escuta participativa, exercícios práticos e conversa com especialistas, além da apresentação de diferentes formatos e linguagens radiofônicas, como radio-arte, radio-jornalismo, paisagens sonoras, programas ao vivo, etc. O objetivo é capacitar as pessoas a criarem seus próprios programas e peças sonoras. radioexperimenta@gmail.com


AMADEU ZOE
Eu, Amadeu Zoe, sou professor, pesquisador autodidata e mais uma porção de coisas. Esse mundo da Internet e do conhecimento compartilhado me possibilitou e me potencializou como ser pensante e produtor. Motivado por um intenso amor à música resolvi comunicar minhas buscas musicais através de uma webradio, dAdA RAdiO. Pesquisei formalmente na FFLCH-USP esse espaço-tempo da rede em que estamos mergulhados, desenvolvendo o trabalho de mestrado “A dimensão Geográfica da Internet no Brasil e no Mundo”. Como professor sempre estive motivado a trabalhar com as ferramentas da educomunicação, integrando técnicas e recursos da comunicação à conteúdos teóricos, sociais e geográficos com os alunos.

Esse conhecimento também me levou para fora do campo acadêmico, abrindo espaço para experimentar no campo da cultura e da arte. Assim, participei ativamente de grupos de intervenção urbana, pioneiro nos sounds systems de rua como o barulho.org; criei em coletivo a dadaradio.net numa época que pouco se falava em podcasts; fui produtor, administrador e programador do espaço Serralheria. Mas o mais importante é o que venho fazendo agora que é juntar toda essa experiência na realização da rádio do século XXI, uma rádio que dialogue e que transforme, que agregue pessoas, ideias e crie de fato um novo contexto no campo da comunicação: mais criativo e mais inventivo. Esse é o Rádio Experimenta que venho participando ao lado da Debora Pill e da Biancamaria Binazzi. Um rádio do futuro que é aqui-e-agora.

O QUE PODE SER O RADIO?
… desde que que me descobri como ser pensante e ativo no mundo estou em busca de uma geografia da música, compreender essa multiplicidade de sons que estão por ai, pelo mundo. Mais que isso… como estes sons chegam nas pessoas, como fazer as vozes de lá cheguem aqui e os daqui pra lá… e por isso o rádio. Gosto do desejo de Brecht da chamada ágora informacional, horizontal, para todos. O rádio é ferramenta de trazer os sons de todos os lugares para os ouvidos de todas as pessoas. O rádio é troca e embora seja muitas vezes associado a um meio de comunicação antigo, nunca foi tão atual. Os meios de comunicação digitais atualizam o potencial comutativo, interativo de amplitude espectral e total. O rádio dialógico, o rádio livre, aquele que fala e que escuta. O rádio feito em tempos de redes digitais não só tem um enorme poder de comunicar, mas também de aglutinar, de proporcionar ajuntamentos, movimentos e processos. O rádio é popular e pode ser diferente, pode ser mais… reflexivo, artístico, transformador, múltiplas vozes de uma geografia dos sons.


BIANCAMARIA BINAZZI

Ouvindo Rádio, aprendi a amar a Música. Por causa do meu amor à Música, fui trabalhar com Rádio. Sou radialista, produtora cultural e mestranda no Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Idealizadora do projeto Goma-Laca, gosto de descobrir belezas em gravações antigas e mostrar para gente da minha geração. Gosto de inventar coisa que não existe, de experimentar gravando e editando sons. Escuto de tudo: de Rádio Arte até a Voz do Brasil, passando pelo pinga-pinga da chuva na telha de barro. Não gosto mensagem de áudio, mas acredito nas infinitas possibilidades criativas dessa ferramenta.

Quando eu nem sonhava em trabalhar com Rádio, voltava escola e contava tudo o que tinha acontecido para um gravador de fita K7. Depois, sintonizava na saudosa Musical FM, ou na Rádio Cultura FM e voava longe. Dentro do quarto, o rádio era meu ponto de encontro com sonoridades e pessoas de outros tempos e espaços. Um mundo feito só de som. Em 2001 fui estudar Rádio e TV na Faculdade Cásper Líbero. Estagiei na Rádio Gazeta AM falando ao vivo todos os dias, e na Rádio Kiss FM, entregando panetone de moto para os ouvintes. Trabalhei com Educomunicação no projeto Educom.rádio, pensando no rádio como ferramenta de diálogo entre estudantes, professores e comunidade nas escolas da rede municipal da Zona Norte de SP. Me especializei em Rádio Documentários pela BBC Academy. Atuei nas Rádios Cultura FM, Cultura Brasil, Web Rádio do Centro Cultural São Paulo, e produzi programas para a Rádio USP (Pesquisa FAPESP), Rádio Eldorado/Estadão (podcast O Estado da Arte) e Rádio Batuta/IMS (Elsie Houston e os cantos populares do Brasil). Meus caminhos, experimentos e pensamentos posto no Estudio Manacá

O QUE PODE SER O RADIO?
Rádio é ponto de encontro. Não importa se é no aparelho de pilha em cima da geladeira, no carro, no grupo de whatsapp, ou no auto falante da praça. Onde tem som e informação compartilhada, tem Rádio.
O Rádio tem quase cem anos e já mostrou que não vai acabar. Em tempos de internet, spotifys e deezers, redes sociais e gente na rua, o velho rádio ganha pilha nova, e as possibilidades de linguagem e formatos só crescem. O desafio não é mais lutar pela sobrevivência do rádio, porque já está provado que ele se garante enquanto houver vibração pelo ar. Agora é tempo de incentivar uma produção mais criativa, sensível e crítica no Rádio. Movimento no sentido de aproveitar as potencialidades que só o som e a escuta tem. Tempos de pensar em rádio 3D, 4G e o que mais conseguirmos inventar. Tempos de ultrapassar os limites da música e da palavra para explorar novas texturas sonoras, timbres, ritmos, pausas e realidades inventadas. Ao lado da Débora e do Amadeu, criamos a Rádio Experimenta, que não é uma Rádio física, mas um ponto de encontro. Uma oportunidade de encontrar amigos, fazedores e pensadores de rádio, músicos, e ouvidos para, juntos, escutar, criar e explorar novos (e velhos) horizontes sonoros de um Rádio vivo, instigante, prazeroso e possível.

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DEBORA PILL

amo música. amo gente.
amo ouvir e contar histórias.
gente anônima, coisas do dia-a-dia.
pra mim é poesia.

meu lado virginiano-ativista me tornou colaboradora da kpfk, uma rádio independente norte-americana, onde espalhei pros quatro ventos notícias sobre movimentos sociais e questões ligadas aos direitos humanos que não tinham espaço por aqui. isso foi em 2007. com eles aprendi a produzir boletins investigativos e a gravar com qualidade mesmo com poucos recursos. eu fazia tudo de casa: pesquisa, texto, edição, gravação. em inglês, claro.

os vinis de música brasileira que herdei do seu ricardo, meu amado pai, foram alicerce pro que se tornou minha pesquisa de música brasileira contemporânea, alimentada diariamente, há mais de quinze anos, com muito afeto. vale dizer que o que me interessa não é o novo cronológico, e sim o que me toca, instiga e surpreende.

a estreia em rádio no brasil foi há dez anos, e de cara na eldorado fm. o “conexões urbanas” foi ao ar todas as quintas, ao vivo, às 20h, onde fiz a programação musical e apresentação. ali percebi que minha história era mesmo abrir espaço pra música autoral e também ouvir a história das pessoas que faziam esses sons. tulipa, bnegão, karina buhr, lucas santtana e carlos dafé são alguns que entrevistei ao vivo na eldorado. também lembro de tocar pela primeira vez por ali a banda de pífanos de caruaru (foi uma luta!), arthur verocai e os tincoãs, hoje já bem conhecidos. isso foi em 2008.

do dial fui para o online, onde aprofundei minhas experimentações radiofônicas no estereo saci, do itaú cultural, e no vitrola livre, na rádio uol. de 2010 a 2015, além da programação musical, roteiro e apresentação, fiz entrevistas longas e inventei temáticas subjetivas, buscando brincar com os formatos.

na rádio red bull, de 2016 a 2017, além da programação musical e roteiro, desenvolvi minhas habilidades de edição no programa quinzenal brisa, muito mais interessada em criar narrativas poéticas, ficando mais longe do microfone. também segui espalhando minha pesquisa de música brasileira contemporânea pro mundo, no scenery: são paulo, mensal e em inglês.

aliás, esse é outro elemento forte na minha vida, talvez pela lua em sagitário: minha conexão internacional. minha estreia em rádio foi no exterior e hoje sigo como colaboradora de rádios na europa e eua.

também experimentei aventuras diferentes com minha voz: fiz a narração do brasilintime, um documentário sobre o encontro de bateristas e djs brasileiros e norte-americanos e do áudio-guia de um projeto chamado cidade azul para descobrir rios vivos debaixo do asfalto na cidade.

minha invenção mais recente é a série “brecha sonora“, intervenção que faço em espaços físicos com peças sonoras sobre temas urgentes do nosso dia-a-dia, de uma forma inspiradora, afetuosa e afirmativa. os últimos que fiz foram sobre feminismo durante o womens music event (ccsp), festival sonora (espaço parlapatões) e o festival sela (casa natura musical).
no momento, estou produzindo uma nova série de boletins sonoros
chamada “vitamina”, com música e informação e que será lançada em breve.
meu foco aqui é inspirar a partir de notícias afirmativas que nos conectem
e fortaleçam.
o que me interessa é o novo.
a criação, a invenção. juntx.
você pode espiar outras aventuras no deborapill.com.

 

O QUE PODE SER O RADIO?
pra mim, rádio é lugar de encontro, sempre.
plural por excelência.
lugar de não-lugares, do avesso, do acaso.
do afeto e do afago.
do calor, do pulso, da incerteza.
do silêncio.
do indizível. do impublicável.
e do que não dá pra explicar.
pra mim, rádio é prática.
é pulso.
é coletivo.
é com: convívio, contexto, construção.
contínuo.