Modo Avião: Experiência Sonora de Lucas Santtana no SESC AvenidaPaulista. Foto:Ariel Martini

Para entender a importância da Escuta num mundo cada vez mais voltado ao visual e às aparências, Jonathan Sterne em Sonic Imaginations, abre nossos ouvidos para uma série de atributos que só o som pode saber (tradução nossa):

  • ouvir é esférico, ver é direcional
  • ouvir nos leva aos objetos, ver oferece uma perspectiva 
  • o som vem até nos, mas a visão vai até o objeto
  • ouvir é interior. ver é superfície. 
  • ouvir pede um contato físico com o interior do objeto, para ver é preciso alguma distância. 
  • ouvir é subjetivo, ver é objetivo;
  • ouvir é temporal. ver é espacial.
  • ouvir é um sentido de imersão no mundo, ver nos tira do mundo.

Em tempos de eletricidades, urbanidades e modernidades sem fio, o território sonoro “natural” está exposto a uma nova coleção sons não naturais. Esquizofonia é o nome que Murray Schafer deu para essa embolada de sons que não conseguimos mais distinguir o que são e de onde vem, da chuva, do vento, dos pássaros e das folhas caindo, mais buzinas, toques de celulares, relógios, freadas e motores. Esquizofonia que pode gerar confusão e nervosismo nos nossos ouvidos e percepções do mundo ao redor. Numa tentativa reeducar a sociedade para “afinar o mundo”, Schafer nos convida a perceber e classificar cada som que nos rodeia, começando pelo básico:

Som Fundamental: Assim como na música,  o som fundamental está ligado à tonalidade. No mundo da paisagem sonora, esse som é chamado de “âncora”ou “som básico”. Embora o material possa modular à sua volta, o som fundamental não muda. Ainda que os sons fundamentais nem sempre sejam ouvidos conscientemente, o fato deles estarem “sempre ali” sugere a possibilidade de uma influência profunda e penetrante em nosso comportamento e estados de espírito.

Sinais: Sons destacados, ouvidos conscientemente. São mais figuras do que fundos. Recursos de avisos acústicos: sinos, apitos, buzinas, sirenes…

Marca Sonora: som da comunidade que seja único, ou que possua determinadas qualidades que o tornem especialmente significativo ou notado pelo povo daquele lugar. Pode ser um sotaque, uma língua, uma música típica, um animal… Para Schaefer, uma vez identificada a marca sonora é preciso protegê-la porque as marcas sonoras tornam única a vida acústica da comunidade.

Exercitando a escuta:

De onde vem e para onde está indo cada pedaço do som que ouvimos? Qual a intenção de cada um? Por que cada um desses sons existem? Sons naturais, sons artificiais, sons imaginários.

O que é o Silêncio, e onde ele está?

Ruídos, ou sons que aprendemos a ignorar?

De que maneira a paisagem sonora define os nossos comportamentos e percepções? E, de que maneira os hábitos e culturas de uma comunidade definem a paisagem sonora?

Conseguimos identificar quais sons são naturais, quais são gerados pela nossa ação e quais são gerados pelas tecnologias?

 

 

Dicas para a gravação de paisagem sonora:

Antes de gravar, escutar: o que você está ouvindo? o que você quer gravar? O que você ouve, mas não quer gravar? qual o melhor ângulo, “ponto-de-escuta”?

Conhecer o seu equipamento: antes de gravar, testar o seu equipamento (telefone, microfone, gravador digital) e entender suas limitações e vantagens. Preparar anti-vento, pilhas, baterias, fone, suporte de mão, formatar a qualidade do audio.

Identificar o som: no início da gravação, dizer onde está e o que vai gravar. Isso irá ajudar na hora de selecionar e editar o material.

Fones de ouvido: o fone aumenta a sensibilidade sobre o que está sendo gravado, e ainda te ajuda a perceber a interferência do vento. Impercepível a “ouvido nu”, um ventinho, um movimento da mão ou uma esbarrada no microfone podem danificar uma gravação inteira.

Gravar o silêncio: tanto na gravação de entrevistas, como locuções e paisagens, é importante gravar e guardar pelo menos um minuto do som do silêncio (puro). Ele será fundamental na hora da edição e montagem.

Paciência: Se você pára, o cenário se movimenta. Se você se movimenta, o cenário pára.  Quando for gravar uma paisagem, é importante que você fique  sem mover o microfone pelo tempo necessário para captar o “cenário”. Quanto mais tempo e calma nesse momento, mais chances você terá de surpresas sonoras na paisagem. Diferente do mundo da imagem, o microfone e movimento nem sempre consegue passar a ideia do movimento.

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